Fale o que eu digo!

Levante mão quem nunca recitou o famoso versinho infantil “batatinha quando nasce, esparrama pelo chão, menininha quando dorme põe a mão no coração”?
Existem várias expressões famosas na língua portuguesa que foram e continuarão sendo passadas de geração para geração. Mas o que a gente não nota é que muitas delas perderam suas formas originais e foram substituídas por outras, muitas vezes porque as pessoas retiram ou acrescentam parte dessas mensagens, transformando-as.
Podemos dizer que isso acontece porque essas frases foram adaptadas por seus ouvintes, pois segundo Ana Maria Balogh adaptação não é nada mais do que uma interpretação.
Podemos ainda justificar essa “adaptação” baseados nos fundamentos de Mikhail Bakhtin que defende que “só o Adão mítico não sofre a influência do outro na formulação de seus discursos”. Ou seja, nada do que falamos é criado apenas por nós, nosso discurso é formulado com fragmentos do discurso que ouvimos de outros.
Eh... Surpreenda-se! Certamente você já deve ter ouvido (ou mesmo pronunciado) muitas dessas expressões:
Popular: “Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão”.
Original: “Batatinha quando nasce, espalha rama pelo chão”.(o que faz referência às raízes da batata.)
Popular: “Quem não tem cão, caça com gato”.
Original: “Quem não tem cão, caça como gato”.(o que faz referência ao ato de caçar sem companhia, como faz o gato.)
Popular: “Cor de burro quando foge”.
Original: “Corro de burro quando foge”.(o que faz referência ao animal, que ao fugir, pode representar perigo.)
Popular: “Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho-carpinteiro!”
Original: “Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro”. (o que faz referência a mexer-se demais.).
Com o passar do tempo, novas formas se estabelecem, modificando o sentido da mensagem original e isso nada mais é do que o ato criativo de diferenciar um novo texto do texto anterior.
Hahaha, adorei os ditos populares... Corro de burro quando foge, sempre achei que fosse uma cor sem graça, ou um marrom esquisito, muito.
Quanto aos discursos, é meio estranho pensar que ninguém é original, e que tudo que a gente é ou fala/faz, são fragmentos de outros e que nós não esquecemos, capturamos e guardamos na cabeça. A gíria é até compreensivo, porque a gente acabada se adaptando a certos modos de falar, mas tudo? Me sinto um nada, ou melhor, who am I???
Ma, os ditos populares são os melhores... mas é assustador pensar que tudo que falamos,lemos ou escrevemos já ficou para a posteridade,e com o passar dos tempo perde sua originalidade,e tem suas adaptações cabíveis,lembrando ainda que o que falamos já foi influenciado por outros?...Medo Mãe!!!
Não sabia que os ditos populares tinham outros significados. Para mim eram somente aquilo e ponto final, com certeza esse "duplo significado" deu-se por causa de uma pessoa que ouviu e quis fazer uma adaptação e deu no que deu. Aprendi que tudo o que falamos/fazemos em segundos já não existe mais e fica tudo para a posteridade, onde certamente outra pessoa irá falar ou fazer o que eu fiz anteriormente só que de uma forma diferente e aperfeiçoada da minha. É muito estranho aceitar tudo isso, mas é a mais pura e sincera verdade.
Fico um pouco assustada referente a essa situação, não criamos nada apenas repassamos.
Mas, acredito que tudo acaba se renovando com uma certa dosagem de "criatividade", afinal repassamos a informação conforme nossas interpretações e cada um tem uma diferente.
E acaba sendo meio que um telefone sem fio, aquela famosa brincadeirinha de criança.
Realmente Stela...Bem colocado!
Sobre os ditados populares exite aquela coisa do "telefone sem-fio". A informação vai sendo passada e com o tempo modificada.
O que escrevemos e falamos hoje só se dá pela informação que recebemos com o passar dos anos e carregamos em nossa bagagem intelectual.
Balogh entende a adaptação como "tradução intersemiótica". Adaptação como interpretação é algo que observei ao longo da minha experiência como jornalista.
Há muito de dialogismo e intertextualidade nos ditos populares.
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