02. 03.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fale o que eu digo!



Levante mão quem nunca recitou o famoso versinho infantil “batatinha quando nasce, esparrama pelo chão, menininha quando dorme põe a mão no coração”?



Existem várias expressões famosas na língua portuguesa que foram e continuarão sendo passadas de geração para geração. Mas o que a gente não nota é que muitas delas perderam suas formas originais e foram substituídas por outras, muitas vezes porque as pessoas retiram ou acrescentam parte dessas mensagens, transformando-as.
Podemos dizer que isso acontece porque essas frases foram adaptadas por seus ouvintes, pois segundo Ana Maria Balogh adaptação não é nada mais do que uma interpretação.
Podemos ainda justificar essa “adaptação” baseados nos fundamentos de Mikhail Bakhtin que defende que “só o Adão mítico não sofre a influência do outro na formulação de seus discursos”. Ou seja, nada do que falamos é criado apenas por nós, nosso discurso é formulado com fragmentos do discurso que ouvimos de outros.

Eh... Surpreenda-se! Certamente você já deve ter ouvido (ou mesmo pronunciado) muitas dessas expressões:

Popular: “Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão”.
Original: “Batatinha quando nasce, espalha rama pelo chão”.(o que faz referência às raízes da batata.)

Popular: “Quem não tem cão, caça com gato”.
Original: “Quem não tem cão, caça como gato”.(o que faz referência ao ato de caçar sem companhia, como faz o gato.)

Popular: “Cor de burro quando foge”.
Original: “Corro de burro quando foge”.(o que faz referência ao animal, que ao fugir, pode representar perigo.)

Popular: “Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho-carpinteiro!”
Original: “Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro”. (o que faz referência a mexer-se demais.).

Com o passar do tempo, novas formas se estabelecem, modificando o sentido da mensagem original e isso nada mais é do que o ato criativo de diferenciar um novo texto do texto anterior.

6 comentários:

Cristina Okuma,  21 de abril de 2010 às 16:48  

Hahaha, adorei os ditos populares... Corro de burro quando foge, sempre achei que fosse uma cor sem graça, ou um marrom esquisito, muito.

Quanto aos discursos, é meio estranho pensar que ninguém é original, e que tudo que a gente é ou fala/faz, são fragmentos de outros e que nós não esquecemos, capturamos e guardamos na cabeça. A gíria é até compreensivo, porque a gente acabada se adaptando a certos modos de falar, mas tudo? Me sinto um nada, ou melhor, who am I???

Regina Dias,  21 de abril de 2010 às 21:29  

Ma, os ditos populares são os melhores... mas é assustador pensar que tudo que falamos,lemos ou escrevemos já ficou para a posteridade,e com o passar dos tempo perde sua originalidade,e tem suas adaptações cabíveis,lembrando ainda que o que falamos já foi influenciado por outros?...Medo Mãe!!!

Fabiana V. C. de Oliveira,  21 de abril de 2010 às 21:53  

Não sabia que os ditos populares tinham outros significados. Para mim eram somente aquilo e ponto final, com certeza esse "duplo significado" deu-se por causa de uma pessoa que ouviu e quis fazer uma adaptação e deu no que deu. Aprendi que tudo o que falamos/fazemos em segundos já não existe mais e fica tudo para a posteridade, onde certamente outra pessoa irá falar ou fazer o que eu fiz anteriormente só que de uma forma diferente e aperfeiçoada da minha. É muito estranho aceitar tudo isso, mas é a mais pura e sincera verdade.

Patrícia Barreto 22 de abril de 2010 às 17:18  

Fico um pouco assustada referente a essa situação, não criamos nada apenas repassamos.

Mas, acredito que tudo acaba se renovando com uma certa dosagem de "criatividade", afinal repassamos a informação conforme nossas interpretações e cada um tem uma diferente.
E acaba sendo meio que um telefone sem fio, aquela famosa brincadeirinha de criança.

Izabella Nanni,  22 de abril de 2010 às 17:23  

Realmente Stela...Bem colocado!
Sobre os ditados populares exite aquela coisa do "telefone sem-fio". A informação vai sendo passada e com o tempo modificada.
O que escrevemos e falamos hoje só se dá pela informação que recebemos com o passar dos anos e carregamos em nossa bagagem intelectual.

Márcio 25 de abril de 2010 às 21:12  

Balogh entende a adaptação como "tradução intersemiótica". Adaptação como interpretação é algo que observei ao longo da minha experiência como jornalista.
Há muito de dialogismo e intertextualidade nos ditos populares.

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