02. 03.

sábado, 10 de abril de 2010

O fato, a ficção e a comunição

Carine Gonçalves


(...) Sem contar que até os fatos ao serem transmitidos sofrem distorção por serem advindos de um ponto de vista diferente do nosso. Se nem os fatos estão isentos de más interpretações só podemos confiar no que nossos olhos vêem? Acabamos escolhendo um veículo e seguindo aquela realidade, o famoso “apareceu na TV é verdade”, ou “tal revista é mais imparcial”...



Quando ouvimos/vemos/lemos uma notícia esperamos, no mínimo, que condiga com a realidade, mesmo estando cientes de que haverá influência da interpretação do jornalista e da visão política da redação. Sabemos que tudo que lemos deve ser peneirado para não ocuparmos nosso “disco rígido” com informações falsas.

Se atualmente nos confundimos entre sensacionalismo e causa social, boato e realidade, imagine na década de 30. Temos o exemplo do radialista Orson Welles que, ao adaptar para o rádio o livro “A Guerra dos Mundos” de H. G. Wells deixou 1,2 milhão de pessoas desesperadas esperando a morte chegar dos céus.

Dos 6 milhões dos ouvintes da rádio CBS, alguns não ouviram o aviso de que o que estava por vir era fictício e o caos se instalou. Durante a programação normal plantões relatavam uma invasão de ETs, seus raios de calor e mortes. Foram quarenta minutos de apreensão até o segundo aviso da rádio de que era apenas um programa.

Em 2007 a Citroën lançou uma notícia em sites como UOL e Estadão de um asteróide chamado Pallas que possivelmente colidiria com a Terra, tudo isso para o lançamento do C4 Pallas. O aviso PUBLICIDADE estava no canto da tela e - por isso ou pela notícia não afirmar reconhecimento de grandes centros astronômicos - a pseudo notícia não causou preocupação.

Ao adotar algumas características do romance realista o jornalismo deu abertura à essas confusões. As características são: linguagem simplificada, construção detalhista do relato e ponto de vista em terceira pessoa. A construção de uma notícia e de um romance é tão parecida que fica fácil montar sua obra de arte e fazê-la passar por informação séria.

Sem contar que até os fatos ao serem transmitidos sofrem distorção por serem advindos de um ponto de vista diferente do nosso. Se nem os fatos estão isentos de más interpretações só podemos confiar no que nossos olhos vêem? Acabamos escolhendo um veículo e seguindo aquela realidade, o famoso “apareceu na TV é verdade”, ou “tal revista é mais imparcial”.

Como concluir se o que chega até nós é realidade ou não incita muitas peguntas, isso gera um problema de ordem filosófica e começa outra história... Por enquanto escolhemos nossos jornalistas sérios, nossos jornais de confiança ou nos tornamos céticos.

Imagem: Web On The Road.
Referências: Portfólio André Azevedo da Fonseca; Brainstorn9; Jornalismo e Ficção, de Cláudia Lemos.

3 comentários:

Caroline Abou Jaoude,  12 de abril de 2010 às 11:03  

Concordo com voce Ca. Sem contar que a mídia pega notícias nas quais seriam necessario somente uma cobertura e as transformam em um filme. Fazendo o maior sensacionalismo e as muitas vezes dando informações ainda não confirmadas sobre o caso.

Anônimo,  19 de abril de 2010 às 00:21  

Muito bom o seu texto Ca. Realmente hoje fica muito difícil sabermos se a noticia que nos chega é real, ou não, com tanta espetacularização, sensacionalismo sobre a mesma.Cabe a cada um de nós termos dissenimento do que é fato ou ficção.

Ellen Baltazar

Márcio 25 de abril de 2010 às 22:15  

Como escolheremos hoje em que fonte de informação jornalística acreditar quando todos somos emissores e ao mesmo tempo receptores de informação em potencial e em ato também?
Selecionar dados de uma informação que ocorreu para relatá-la em forma de discurso não é, de certa maneira, criar uma ficção?

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