02. 03.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A espetacularização do eu



Irailda Monteiro Leal


Com o surgimento de tecnologias como a Internet, 8 entre 10 pessoas tem seu perfil estampados em algum site de relacionamento, diariamente são enviadas ao facebook e ao twitter centenas de atualizações de amigo, mas será que as pessoas se sentem realmente próximas umas das outras? Ou será apenas a espetacularização do “Eu.


A espetacularização do EU (termo que tem origem em Guy Debord na sua obra (A Sociedade do Espetáculo) está cada vez mais presente na sociedade, cuja marca maior é justamente essa manifestação e exposição de um “Eu” que constrói a si mesmo nas relações que estabelece nos sites de redes sociais e em reality shows.

Nos últimos anos, surgiu na internet todo um leque de práticas que poderíamos denominar "confessionais". Milhões de usuários do mundo inteiro têm se apropriado das diversas ferramentas disponíveis on-line, e as utilizam para expor publicamente a própria intimidade: blogs, webcams, fotologs, YouTube, Orkut... Trata-se de um verdadeiro festival de vidas privadas, que se oferecem despudoradamente a quem quiser dar uma olhada. A tendência é bem atual e, de fato, excede a internet para atingir todas as mídias. Basta pensar no sucesso dos reality-shows na televisão, por exemplo, e no auge das biografias tanto no mercado editorial como no cinema.

O que mais surpreende neste novo fenômeno, porém, é uma combinação inédita do privado e do público, sem pudor algum, os usuários das novas tecnologias como as redes sociais mostram todos os detalhes de sua vida como se estivessem escrevendo naquele “velho diário de infância”.

Embora existam muitas semelhanças entre os blogs atuais e os diários tradicionais também são enormes as diferenças:
Aqueles caderninhos rabiscados em silêncio e solidão escritos extremamente privados, introspectivos e secretos acolhiam as sensibilidades típicas da modernidade industrial.

Já os novos "diários íntimos" da internet os blogs, fotologs, YouTube e Orkut são verdadeiras cartas abertas, tanto seus objetivos como seus sentidos são outros, com uma cultura cada vez mais distante daqueles longínquos tempos modernos. Agora, as tecnologias fazem do próprio eu um show.


Como é possível que esses novos "diários íntimos" se exponham aos milhões de olhos que têm acesso à internet? Será em busca de seus minutos de fama?

A espetacularização da vida privada mais banal tem se tornado habitual. Temos à nossa disposição um arsenal de técnicas de estilização da personalidade e das experiências vitais, a fim de expor a própria imagem.

A influência do pensamento debordiano esta cada vez mais forte, de que a sociedade é capaz de “criar seus pressupostos” a partir de cada época, de que, independente do tempo, essas relações estabelecidas não são relações “genuínas”, são relações que têm como meio termo imagens. Nas palavras de Debord “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”.

Cada perfil nos sites de relacionamentos pode ser comparado a um pequeno palco, esse exercício até certo ponto teatral é, no entanto, apresentado a uma audiência invisível. "Como não estamos vendo nossos espectadores, somos incapazes de observar sua reação ao que estamos fazendo e, com isso, ficamos à vontade para nos expor mais do que seria prudente".

Em busca dos 15 minutos de fama nas redes sociais os usuários muitas vezes se sentem protegidos de tudo, a sensação de liberdade proporcionada pelo computador pessoal faz com que suas vontades e estilos sejam expostas cada vez mais, deixamos de lado a preocupação com o outro.

No mundo da internet no “off-line” você pode incomodar muita gente sem perceber, fazendo com que seus amigos sejam obrigados a aceitar suas vontades e estilos em nome da espetacularização.

Por conta disso foram criadas algumas regras de etiqueta na internet, a Folha Online separou algumas dicas para fazer bonito:

Não obrigarás os amigos a fertilizarem tua ‘fazendinha’

Não é porque você adora um aplicativo ou comunidade do Facebook ou Orkut que todos os seus amigos também vão gostar. Pense nas pessoas adequadas quando for pedir ajuda na fertilização de sua plantação virtual, convocar para entrar em uma causa ou mesmo exibir sua condecoração no game Mafia Wars.
Se não houve retorno positivo ao convidar pessoas para algo, não insista. E tenha paciência: no telefone, a resposta é imediata; na internet, nem sempre os outros terão a mesma disponibilidade –ou interesse– que você tem para participar de certas atividades e conversas.

Não falarás em vão sobre qualquer assunto

Publicar comentários no Twitter sobre qualquer tema, só pelo hábito ou para responder a alguma moda do momento, pode não ser uma boa ideia. Seus seguidores podem preferir algo mais interessante ou útil.
Se o seu seguidor não conhecê-lo pessoalmente, vai simplesmente parar de segui-lo. No entanto, se ele for seu amigo fora da internet, pode se sentir mal em parar de te seguir no Twitter e vai aguentar textos chatos só para não te magoar.

Honra teu nome

Antes de publicar uma mensagem, lembre-se: falar é diferente de escrever. Vai ficar gravado, e depois poderá ser usado contra você.
Pense também no público que vai ler. Às vezes, seria adequado que uma só pessoa lesse seu texto, e não o mundo inteiro.

Lembra-te do grupo para o qual estás falando

Cuidado ao mandar a mesma mensagem para mais de um e-grupo (grupos de discussão) ou comunidade. Se forem de temas parecidos, vários dos participantes podem participar de ambos os grupos e acaba ficando chato receber textos repetidos.
Exagerar na divulgação de um evento, ideia ou fato pode ser considerado “spam”, o que irrita as pessoas e causa o efeito contrário ao desejado: desgosto pelo que se está divulgando –e por quem divulga.

Adequarás teu discurso

Ao participar de uma comunidade, veja se seus textos serão adequados.
Assim como você não entraria em um festa de gala de bermuda e camiseta regata, você também não seria bem visto se disparasse mensagens sobre música sertaneja ou funk em um grupo de rock. Ou se publicasse textos anticientíficos em um grupo que preza exatamente isso.
Por outro lado, quando for conversar privativamente com alguém –fora de grupos–, não crie estereótipos: não é porque você conheceu a pessoa em um ambiente esotérico, que ela só vá se interessar por esse assunto.

Não queimarás o próprio filme

Seja educado, assim como se espera fora da internet. Evite discurso preconceituoso, arrogante, insultos e escrever sempre em maiúsculas –correspondente à gritaria na internet.
Ao expor uma opinião, justifique. Outros poderão pensar de forma diferente sobre seu assunto, mas só terão como rebater de maneira civilizada a partir dos motivos de cada um.
A distância e possível anonimato na internet não podem ser usados como pretexto para criar um ambiente ruim.

Não criarás fakes

Você pode ser fã de alguém, como um astro do cinema, e querer imitá-lo; ou ainda cobrir seu perfil de expressões, fotos e estilos que estão na moda. Mas isso arrisca irritar seus amigos por causa das cópias: seja autêntico e não crie fakes (perfis falsos de outros).
Procure agir na rede com o mesmo comportamento que você tem pessoalmente.





Fontes: Folha Online por Maurício Kanno, 03/03/2010
Livro Debord Guy A Sociedade do Espetáculo editora contraponto, 2003.
Revista Veja Edição 2120 / 8 de julho de 2009

5 comentários:

Cristina Okuma,  17 de abril de 2010 às 17:47  

Não vejo muito como espetacularização do EU, vejo mais como um modo de vida. É claro que existe muita gente que usa os sites de relacionamento para aparecer, se mostrar, enfim,ser o assunto.
De qualquer forma, estamos exposto ao mundo e temos que dosar o que iremos falar, postar, participar.

As pessoas estão muito acostumadas com a internet e seus sites relacionamentos e a gente meio que se sente obrigado a participar de todos esses sites e acaba gostando, e pior, viciando nos aplicativos (eu sou viciada).

Eu uso como modo de vida, não pra me mostrar...

Bruna Chaves,  18 de abril de 2010 às 11:14  

Eu concordo com a Ilda,quem participa de sites de relacionamento de alguma forma está se expondo e querendo "aparecer",ou seja, quer ser visto.Eu sou assim se eu coloco uma foto no orkut eu quero que as pessoas vejam e comentem, se não não tem graça mas isso sou eu.

Izabella Nanni,  19 de abril de 2010 às 18:14  

Ter um perfil no Orkut, ou qualquer outra rede social te expõe. Mas não acho que seja necessariamente uma espetacularização do eu. Possuir um orkut é tão comum, quem não o tem é considerado anormal.
Existem pessoas que nem fotos colocam, que o usam apenas para socialização, reencontrar e ficar em contato com os amigos. Outros utilizam apenas para diversão e jogos. E outros para se mostrar mesmo.
No Twitter e blogs em geral, há a espetacularização, entretanto, muitos tentam apenas divulgar suas opiniões e serem ouvidos. Seria então espetacularização de idéias? Seria esse blog uma espetacularização de nós mesmos então?

Já nos Reality Shows é diferente, e se vê aquela busca pelos 15 minutinhos de fama.

Márcio 25 de abril de 2010 às 21:44  

Como foi para você fazer parte de algo tão "confessional" como escrever um blog sobre o que você está estudando e compartilhá-lo com seus colegas de sala?
Não devemos expor para a posteridade o que pensamos? Transformar textos em discursos?

Ilda Monteiro 26 de abril de 2010 às 01:12  

Gostei muito professor, o blog nos permitiu trocar informações, dar opinião sobre outros assuntos e nos auxiliou muito com os textos estudado em sala de aula.

Sem dúvida ficara para posteridade e os nossos textos, ou melhor nossos discursos será útil para os novos alunos.

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